Artigo:Carta Aberta de Cientistas pelo Clima

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NOTA PRÉVIA: A luta em defesa do clima tem vindo a assumir um lugar cada vez mais proeminente nas preocupações dos cidadãos e é sentida como um campo da formação nas nossas escolas. Contudo, a substituição de uma economia fundada em energias fósseis por uma economia assente em outras bases energéticas, sobretudo no tempo imediato, continua a dividir opiniões. Não é pois o tempo de o SPGL tomar posição oficial sobre o tema. Mas é certamente o tempo de possibilitar e incentivar a discussão e a troca de opiniões. Tal é o objetivo da divulgação aqui desta CARTA ABERTA, ficando desde já o compromisso para a divulgação neste mesmo espaço de outros contributos.

A direção do SPGL

Carta Aberta de Cientistas pelo Clima

Combustíveis fósseis e alterações climáticas: resposta a uma preocupação científica e social

Pensamos no mundo global em que vivemos como um sistema vivo e social, um sistema com que nos preocupamos e que temos a responsabilidade de transmitir às gerações vindouras.

As Cimeiras do Clima têm provocado debates mundiais sobre as alterações climáticas. Cientistas têm sublinhado a insuficiência das medidas tomadas até agora pelos poderes públicos nacionais e internacionais. A isto junta-se o desrespeito das metas acordadas por muitas empresas da energia e das maiores consumidoras, organizadas global e localmente em redes de dominação.

Hoje existe acordo entre a maioria das e dos cientistas quanto à urgência de pôr fim às emissões de gases de efeito de estufa. O conhecimento já existente permite abandonar os combustíveis fósseis em favor de energias limpas, as inovações nesta área são constantes. As alterações climáticas provocadas por ação humana são um problema da sociedade a que a ciência pode e tem vindo a responder. Queremos trabalhar em soluções e fazer parte delas, assumindo um compromisso com o planeta Terra e as vidas que humanas e não-humanas que dele dependem.

A relação entre poderes globais e nacionais está a reconfigurar-se após a eleição de Trump, a aliança com Putin e a ascensão da extrema-direita na Europa, o que agrava a situação de forma preocupante. Para os povos, as ameaças à paz, à permanência no território, à saúde, à alimentação, à educação, aumentam a cada dia. Acresce ainda a insuficiência do investimento científico, em muitos países, o que ameaça o trabalho de cientistas e o isola mais, socialmente, das soluções justas para os grandes problemas que requerem a intervenção das várias ciências.

A exploração de combustíveis fósseis em Portugal é, justamente, um dos grandes problemas que temos de enfrentar do ponto de vista da cidadania e das ciências que fazemos. Como cientistas sabemos que a persistência de uma economia predadora do carbono inviabiliza os compromissos políticos nacionais assumidos nas Cimeiras do Clima e defrauda as expectativas das

populações. Sabemos que destrói os territórios, mares e rios, a atmosfera, formas e cadeias de vida insubstituíveis, aproximando-nos aceleradamente de um ponto de não retorno. Sabemos que, com essa exploração, as populações não ganham nem trabalho, nem saúde, nem lugar para viver. E sabemos que há alternativas.

As comunidades científicas movimentam-se a nível internacional e preparam manifestações públicas para exprimir a sua condenação desta situação em abril, em vários países do mundo, incluindo Portugal. Este é, pois, o momento para manifestarmos a nossa oposição, socialmente responsável e com base no melhor conhecimento científico, aos furos de prospeção e exploração de petróleo e gás na costa e no mar portugueses, desde o Algarve até ao Porto.

Vimos afirmar que é preciso que cessem, desde já, todos os contratos em vigor e que se recusem novas emissões de licenças, de forma a evitar danos irreparáveis para a economia, o meio ambiente e as suas comunidades.

22 de abril de 2017

Alda Sousa, Ana Delicado, Ana Teresa Luís, Anabela Ferro, André Pedro do Couto, André Silveira , António Bracinha Vieira, António Pedro Dores, Armando Alves, Britta Baumgarten, Claudio E. Sunkel, Eduardo Ferreira, Elísio Estanque, Eugénia Pires, Filipe Duarte Santos, Francisco Louçã, Gil Fesch, Gil Penha-Lopes, Helena Freitas, Henrique de Barros, Inês Farias, João Arriscado Nunes, João Camargo, João Ferrão, João Guerra, João Lavinha, João Teixeira Lopes, João Veloso, Jorge Paiva, Jorge Sequeiros, José Lima Santos, José Manuel Pureza, José Maria Castro Caldas, Júlia Seixas, Lanka Horstink, Luís Ribeiro, Luísa Schmidt, Manuel Carvalho da Silva, Manuel Sarmento, Margarida Cancela de Abreu, Margarida Silva, Miguel Centeno Brito, Miguel Heleno, Nuno Almeida Alves, Nuno Santos Carneiro, Otávio Raposo, Patrícia Maciel, Patrícia Vieira, Paula Guerra, Paula Sequeiros, Paula Silva, Paulo Raposo, Paulo Talhadas Santos, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Pedro Matos Soares, Pedro Pereira Leite, Ricardo Paes Mamede, Rita Ferreira, Rui Bebiano, Rui Gil da Costa, Rui Vitorino, Sandro Mendonça, Sinan Eden, Stefania Barca, Tatiana Moutinho, Teresa Summavielle, Violeta Ferreira e Viriato Soromenho-Marques.